Quando decidi falar sobre o tema “Inteligência Conjugal” pensei na relação sólida que tenho com meu cônjuge há 40 anos, somando 10 de namoro e 30 de casamento, e o quanto essa relação tem me ensinado.
Nessa convivência, eu tive a oportunidade de conhecer muitas mulheres em mim e muitos homens nele, além de desenvolver algumas habilidades na arte de relacionar.
Claro, tivemos muitas fases de turbulências como qualquer casal. Mas isso não nos impediu de experimentar uma vida rica em superações, desafios, celebrações e crescimento.
Nunca tive dúvidas do amor que sinto por meu companheiro.
Por algumas vezes pensei em desistir dessa relação por me sentir incompetente e às vezes infeliz e incompleta do lado dele.
Mas, felizmente, eu tomei consciência que muitas vezes o que mais eu experimentava na relação era minha dificuldade de comunicação, de me fazer entender e também de entender o jeito que ele funcionava. E foi quando senti uma grande necessidade de me conhecer melhor para saber o que eu realmente queria de mim, daquele casamento e da minha vida.
Eu não estava gostando do que vivia naquela relação.
Insegurança, medo, ciúmes e uma grande dificuldade de criar projetos e sonhar com o futuro do meu casamento. Não faltava amor, faltava sim era inteligência conjugal.
Então, fui em busca de mim mesma, aprendendo a olhar para mim e a me priorizar, através de estudos e processos, cursos e treinamentos com as ferramentas de autoconhecimento.
Dessa forma, eu decidi me afastar do universo de tantos afazeres como mãe, profissional, esposa e criar um espaço só meu, para poder me perceber, olhar para mim mesma e para aquela relação de forma dissociada, imparcial.
Confesso que não foi nada fácil sair daquela zona de conforto!
Pelo contrário, foi um longo processo em busca de respostas e significados para a minha trajetória de vida.
Mas, aos poucos, fui tirando as camadas que havia criado em mim mesma e que estavam me distanciando tanto da minha essência.
Nos diversos cursos, me deparei com a Programação Neurolinguística (PNL), um assunto recém-chegado no Brasil nos anos 70, e nele mergulhei, colocando minha vida conjugal como prioridade.
Foi com a PNL que encontrei um manual de funcionamento de mim mesma e do outro.
Não querendo desmerecer todos os demais processos de autoconhecimento, mas na PNL Tudo era muito simples, prático e as mudanças aconteciam de forma rápida e eficaz.
Por isso, deixo aqui algumas dicas que talvez possam ser úteis para você na sua relação conjugal e na sua vida:
1.Troque lamentação por solicitação
Muitas vezes as lamentações criam um lixo tóxico impedindo que a comunicação seja clara. Isto não é inteligência conjugal.
Começar a refletir sua forma de comunicar, aprender a elaborar um pedido e cessar as lamentações pode trazer vários benefícios para a relação. No casamento, ao invés de lamentar, experimente dizer: “Gostaria de convidar você para ficar comigo e as crianças hoje à noite, pode ser?” ou “Quero te pedir para almoçar conosco hoje, pode ser?”.
2.Troque críticas por apreciação
Evite falar mal, julgar, fazer brincadeiras de mau gosto. Procure se observar. Valorize o que está funcionando, maximize os pontos fortes, elogie e pare de reforçar os defeitos e os erros. Com inteligência conjugal, você torna a comunicação consciente.
Tome uma respiração profunda e antes de fazer o comentário com seu cônjuge, se pergunte: “O que eu vou falar é verdadeiro? É útil? É bom?”
Ou seja, vai ajudar na relação? Existe uma grande diferença entre julgar e perceber. Quando nós julgamos, damos opinião, criticamos e assim, distanciamos o outro de nós dificultando a relação.
Quando ampliamos a percepção do outro, refinamos o nosso olhar, abandonamos o julgamento e criamos um campo seguro para a conexão. Pratique o cessar críticas e aumentar gestos de gentileza.
3. Não acumule lixo debaixo do tapete
Em alguns casos o casal deixa acumular mágoas e ressentimentos e o clima fica ruim, podendo causar intolerância e um comportamento hostil, inclusive com as crianças.
Aprender a estar atento ao que deixa o outro chateado e criar um clima favorável para conversar e tirar as arestas pode ser muito valioso na relação.
Ao invés de dizer: “Você chegou tarde e não está nem aí para mim e para os nossos filhos, age como se estivesse solteiro”, experimente focar no fato, falar com honestidade de seu sentimento sem acusar o outro: “Quando eu olhei no relógio e vi que você não tinha chegado eu experimentei uma insegurança e me comportei daquela forma reativa”. Essa é uma boa forma de afinar o instrumento e ser específico na comunicação.
Meus pais utilizavam uma frase, muito comum em Minas Gerais, que me lembra desse contexto: “espere o barro secar” ou seja, respire fundo, conte até 10 e crie um clima favorável para você falar de suas emoções e das coisas que estão incomodando.
Evite agir dentro da dor, raiva, mágoa ou ressentimento.
4. Não durma com o problema. Visualize a solução
Se você tentou conversar e não foi possível, coloque num papel o que está incomodando. Escreva detalhadamente, esvazie tudo que está causando o mal-estar e depois jogue fora.
Isso poderá ajudar a diluir a mágoa e possibilita entrar num espaço de conforto interno. O efeito poderá ser muito positivo.
É provável que a partir daí você consiga integrar melhor a situação, sentir um alívio razoável que lhe permita dissociar, tirar o foco do problema e visualizar uma saída.
Assim, após esvaziar a dor, visualize o estado desejado, deixe sua mente saber o que você quer no lugar desse desconforto. Procure dormir com a solução em mente.
5. Acompanhe antes de conduzir.
Faça rapport. Em alguns momentos “é melhor ser feliz do que ter razão”.
Procurar compreender e acompanhar o ponto de vista, se colocar no lugar do outro, ouvir com empatia, sem a intenção de replicar, cria sintonia na relação.
Imagine a seguinte situação: uma festa que já estava planejada para o casal ir. A esposa se atrasa e deixa o marido esperando no carro. Ao chegar ele reclama num tom de voz de irritação. “Poxa vida, parece que você é a dona da festa, precisava se atrasar tanto?”
Nesse momento, porém, o ideal é a esposa procurar não reagir, aceitar e respeitar o ponto de vista dele. E ela poderá completar: “É verdade, realmente demorei muito, peço desculpas, vou procurar ser mais cuidadosa e gerenciar melhor o tempo. Quero te agradecer por ter me esperado ainda assim”.
Dessa forma ela dá logo a razão para ele e provavelmente isso o deixará mais calmo, evitando um clima hostil na relação.
Aprender a ter consciência sobre a forma de agir com o parceiro, significa gerar ações que possam construir relações saudáveis com respeito, amor e compreensão não só no lar como em todos ambientes onde estivermos.
6. Tenha um lugar reservado para conversar e lavar a roupa suja.
Com as ferramentas da PNL aprendemos a ter um cuidado maior com a forma que falamos e também com os ambientes onde a comunicação acontece.
Compreendemos que tudo faz parte do mesmo contexto, ou seja, a cena ficará registrada e poderá ficar ancorada causando danos ou benefícios dependendo da qualidade da comunicação.
Quando o assunto é desagradável é interessante escolher um lugar neutro para conversar, para não intoxicar os ambientes do lar.
Dessa forma aprendemos a cuidar da relação. Fica a dica, quando se trata de lavar roupa suja, procure um lugar neutro que não seja o quarto do casal, sala de jantar e ambientes onde a família se reúne.
7- Cesse as críticas e evite ridicularizar seu companheiro.
Inteligência conjugal também não expor as fraquezas ou ridicularizar seu parceiro (seja de forma privada ou pública).
Se você faz um comentário e expõe a fraqueza de seu parceiro, essa atitude poderá enfraquecer a relação e disparar um sentimento agressivo e reativo nele.
As pessoas têm a tendência de grudar no negativo e isso poderá causar brincadeiras de mau gosto que em nada contribui ou soma na relação.
Se acontecer algo que esteja abalando a relação, se o casal não está conseguindo reestruturar o relacionamento pode ser interessante pensar na possibilidade de procurar ajuda de um especialista de casal ou de família.
Ter alguém imparcial com quem o casal possa se abrir,com certeza pode ampliar as possibilidades de um entendimento maior. Pode ser muito caro deixar uma relação ir se deteriorando e nada fazer.
Hoje existem muitos bons especialistas que poderão dar uma grande ajuda ao casal para encontrar a melhor saída.
Claro, é bom lembrar que não existem fórmulas mágicas para se construir um casamento feliz e não acredito em casamento feliz o tempo todo. Mas a Inteligência conjugal contribui – e muito – para melhorar a relação.
Convivência a dois dá trabalho, criar filhos e sustentar a célula familiar também.
Portanto, é preciso ampliar a percepção, olhar para nossas vidas e procurar identificar em nós nossas fraquezas, buscando melhorá-las e perceber o quanto projetamos nossas questões não resolvidas na relação é propósito de pessoas corajosas.
Luíza Lopes é diretora do INDESP.